terça-feira, 31 de outubro de 2017

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE ACORDO COM SANTO AGOSTINHO


A causa primeira com a analogia do dominó é que o primeiro dominó nessa série é a causa primeira e os outros são as causas segundas no tombo do dominó seguinte. Se analisarmos com mais precisão, poderíamos dizer que a mão que empurrou o dominó é realmente a causa primeira. E somente o indivíduo que contém a intenção possui a causa formal do tombo em sequência. Assim, sempre precisamos distinguir a causa primeira da causa segunda. De certa forma, a causa segunda é sempre uma causa instrumental da primeira. O primeiro dominó não poderia atingir o último senão através dos dominós intermediários.

Por esta analogia, o Universo são as peças de dominó, e Deus é a mão que inicia o processo que desencadeia o efeito. Porém, as peças não estiveram ali para sempre, alguém teve que estabelecer, criar, os objetos necessários e as condições necessárias. Em outras palavras, Deus criou o Universo com suas propriedades(peças), e suas leis naturais com suas condições(distancia para que as peças caiam), e após estabelece-las desencadeou o processo.

E isso entra em acordo com o pensamento de Santo Agostinho. Alister McGrath em seu livro "Deus e Darwin"(pág. 234) escreve:

Uma da ideias mais importantes desenvolvidas neste comentário(De Agostinho: Genesi ad litteram) é de que a ação instantânea da criação de Deus ex nihilo não deve ser compreendida como limitada ao ato primordial de criação, mas abarca tanto a criação do mundo quanto a direção dos desdobramentos subsequentes e o desenvolvimento de "razões seminais"(rationes seminales ou rationes causales) inerente à ordem criada no ato de criação de Deus. 
O argumento essencial de Agostinho é de que Deus criara o mundo, de forma completa com uma série de potências múltiplas latentes, as quais se concretizam no futuro por meio da providência divina. Enquanto alguns poderiam conceber a criação, em termos da inserção por parte de Deus, de novos tipos de plantas e animais já prontos, de uma forma instantânea, no mundo pré-existente, Agostinho rejeita essa ideia como algo inconsistente com o testemunho geral fornecido pelas Escrituras. Na verdade, Deus deve ser concebido como tendo criado, naquele primeiro momento, as potencialidades para todos os tipos de seres vivos que surgiram posteriormente, incluindo a humanidade.

Santo Agostinho ilustra seu pensamento com uma analogia ao desenvolvimento de uma arvore:

Assim, na semente, estava presente, de forma invisível, tudo aquilo que se desenvolveria com o tempo numa árvore. E precisamos ver o mundo da mesma forma, quando Deus fez todas as coisas, como tendo criado todas as coisas nele e com ele. Isso inclui também os seres que a terra produzira potencialmente e de forma causal (potentialiter at que causaliter), antes que eles surgissem com o passar do tempo.

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